A VOZ DO PAPA
Cidade do Vaticano, 30 mai (RV)
Neste domingo celebramos o mistério da nossa fé, que nos distingue de todas as expressões de fé não cristãs do mundo. Quando afirmamos o mistério da Santíssima Trindade, tratamos da nossa própria identidade. Em nenhuma outra religião, Deus é entendido como Pai, Filho e Espírito Santo. É bem verdade, que todos os que vivem suas religiões expressam fé, devoção, amor e desejo de conversão do mundo, mas não a partir da revelação em Jesus Cristo, que é a revelação absoluta de Deus, e é Cabeça da fé revelada por vontade do Pai no Espírito Santo. Esta é a fé da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, a qual professamos no mundo e para salvação de todos.
As leituras de hoje nos colocam no contexto histórico da revelação trinitária de Deus. A primeira leitura diz-nos que Deus criou a sabedoria e, na presença dela, também criou o universo. A sabedoria era o seu encanto, era amável e sublime; diante dele, ela brincava e se deleitava e, ainda, manifestava seu desejo de permanecer junto aos filhos dos homens, participando de sua história. O texto quer nos dizer que Deus criou todas as coisas por meio de sua sabedoria e que tudo tem uma finalidade, um sentido e uma ordem.
OLHANDO PARA O MUNDO
Diante dessa realidade, olhando para o mundo, percebemos uma tremenda diferença com relação ao plano de Deus. O mundo se encontra dividido, sem horizonte, envolvido em guerras e atrocidades. O mundo está banhado de soberba e individualismo; não valoriza mais o ser humano como tal, mas o interpreta como coisa e, portanto, algo descartável. Estamos numa época tremendamente relativista! O hedonismo e o consumismo dominam muitos homens e mulheres.
O resultado de tudo isso é percebido na sombra de morte que cobre a humanidade, na dor estampada nas lágrimas de tantos, nos desequilíbrios naturais e pessoais.
O mundo parece não entender a sabedoria de Deus, a única que pode tornar o homem conhecedor de sua própria realidade última e lançá-lo no horizonte de sua edificação.A sabedoria não faz parte do caos.
Ela nos faz perceber que o mundo é obra de Deus e que, por Ele, tudo pode ser transformado. Daí ser necessário o uso de duas importantes faculdades, que nos possibilitam enxergar a presença de Deus na criação: admiração e contemplação (cf. GS 56-59) e, ao lado delas, cultivarmos o senso religioso. Se bem que essa sabedoria é ainda uma figura, um sinal do Verbo feito carne, único capaz de nos conceder a plenitude de vida. É o Verbo feito carne a única condição de salvação para o homem; a Sabedoria do Pai por excelência.
O Catecismo da Igreja Católica, nos parágrafos de 456-460, diz-nos que a Palavra de Deus se fez carne "por causa de nós homens e para nossa salvação; para nos fazer conhecer o seu amor infinito; para ser nosso modelo de santidade; e para nos tornar 'participantes da natureza divina' (2Pd 1,4)". Assim, por meio do seu Filho feito carne, o Pai nos justifica, nos liberta, nos restaura e nos redime. A ação de Deus a nosso favor e para o bem de todo o cosmo se completa com o envio do Espírito Santo, que é Espírito do Pai e do Filho; Ele é "Senhor que dá vida; e procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, Ele que falou pelos profetas" (Credo Niceno-Constantinopolitano).
No Evangelho (Jô 16,12-15):
o Espírito Santo é aquele que vem do Pai e do Filho como verdadeiro intérprete dos ensinamentos de Jesus Cristo. Certamente não ensinará outra verdade, não vem com outra revelação. É sabido que somente Jesus Cristo é a Verdade (cf. Jô 14,6) e a revelação única do Pai (cf. Jô 14,6; At 4,12; Gl 4,4). A missão do Espírito não é outra senão iluminar os discípulos de Jesus Cristo na compreensão da fé, do amor e da verdade; edificá-los, animá-los e santificá-los. É o Espírito de Jesus Cristo que gera a unidade do Corpo Místico, que é a Igreja; que age em cada sacramento, configurando cada fiel a Cristo; que nos faz conquistar a semelhança com Deus, perdida com o pecado; e que lança a Igreja na novidade da história, a fim de que ela brilhe como instrumento de salvação. O Espírito Santo nos ajuda a entender a nossa vida na terra à semelhança da realidade de Deus, na comunhão das três Pessoas divinas.
O mistério da Santíssima Trindade é absoluto em nossa fé. Nele encontramos os ensinamentos legítimos para nossa vida na Igreja, na comunidade e na sociedade. Ele é o fundamento da nossa vida espiritual e familiar, vocacional, profissional e dialogal. A realidade de uma única natureza em três pessoas já nos chama a atenção para o fato da unidade e da comunhão.
Ora, se somos o povo do Deus Trindade, não pode agir de outra forma senão como sinais autênticos de unidade, que deve se manifestar na liturgia, na fé que professamos, na comunhão entre si e com os demais cristãos, na busca pela justiça e pela paz e no exercício do amor a todos, sem acepção de pessoas, raças ou nações, pois todos, mesmo que alguns desconheçam, pertencemos ao mesmo Criador.
Nós cristãos, batizados em nome da Trindade (cf. MT 28,19), somos os verdadeiros responsáveis, no Espírito Santo, a manifestar ao mundo o amor de Deus e a beleza da salvação por meio de Jesus Cristo Nosso Senhor.
Glória ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo / Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo. Amém.
A doutrina trinitária professa que o conceito da existência de um só Deus, onipotente, onisciente e onipresente, revelado em três pessoas distintas, pode-se depreender de muitos trechos da Bíblia.
Um dos exemplos mais referidos é o relato sobre o batismo de Jesus, em que as chamadas "três pessoas da Trindade" se fazem presentes, com a descida do Espírito Santo sobre Jesus, sob a forma de uma pomba, e com a voz do Pai Celeste dizendo:
"Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazoe na fórmula tardia de Mateus: «Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo».
O termo "Trindade" não se encontra na Bíblia, pois é o nome dado pela igreja cristã à Doutrina que define a personalidade de Deus na Bíblia, onde Deus é: o Pai, e o Filho e o Espírito Santo. Por isso, aqueles que professam este dogma se referirem a Deus como Uno e Trino.
"Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo."
233 Os cristãos são batizados "em nome" do Pai e do Filho e do Espírito Santo e não "nos nomes" destes três (cf. Profissão de fé do Papa Vigilio em 552: DS 415), pois só existe um Deus, o Pai todo-poderoso, seu Filho único e o Espírito Santo: a Santíssima Trindade.
234 O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo, é, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na "hierarquia das verdades de fé" (DCG 43). "Toda a história da salvação não é senão a história da via e dos meios pelos quais Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, reconcilia, consigo e une a si os homens que se afastam do pecado" (DCG 47).
O Pai revelado pelo Filho
238 A invocação de Deus como "Pai" é conhecida em muitas religiões. A divindade é muitas vezes considerada como "pai dos deuses e dos homens". Em Israel, Deus é chamado de Pai enquanto Criador do mundo (Cf. Dt 32,6; Ml 2,10). Deu é Pai, mais ainda, em razão da Aliança e do dom da Lei a Israel, seu "filho primogênito" (Ex 4,22). É também chamado de Pai do rei de Israel (cf. 2 S 7,14). Muito particularmente ele é "o Pai dos pobres", do órfão e da viúva, que estão sob sua proteção de amor (cf. Sal 68,6).
239 o designar a Deus com o nome de “Pai", a linguagem da fé indica principalmente dois aspectos: que Deus é origem primeira de tudo e autoridade transcendente, e que ao mesmo tempo é bondade e solicitude de amor para todos os seus filhos. Esta ternura paterna de Deus pode também ser expressa pela imagem da maternidade (cf. Is 66,13; Sl 131,2) que indica mais a imanência de Deus, a intimidade entre Deus e a sua criatura. A linguagem da fé inspira-se assim na experiência humana dos pais (genitores), que são de certo modo os primeiros representantes de Deus para o homem. Mas esta experiência humana ensina também que os pais humanos são falíveis e que podem desfigurar o rosto da paternidade e da maternidade. Convém então lembrar que Deus transcende a distinção humana dos sexos. Ele não é nem homem nem mulher, é Deus. Transcende também à paternidade e à maternidade humanas (cf. Sl 27,10), embora seja a sua origem e a medida (cf. Ef 3,14; Is 49,15): Ninguém é pai como Deus o é.
240 Jesus revelou que Deus é "Pai" num sentido inaudito: não o é somente enquanto Criador, mas é eternamente Pai em relação a seu Filho único, que reciprocamente só é Filho em relação a seu pai “Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11,27).
(241) - É por isso que os apóstolos confessam Jesus como "o Verbo” que no início estava junto de Deus “(e que “é Deus” (Jo 1,1), como “a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), como “o resplendor de sua glória e a expressão do seu ser” Hb 1,3).
O Pai e o Filho revelados pelo Espírito
(243) - Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de "outro Paráclito" (Defensor), o Espírito Santo. Em ação desde a criação (cf. Gn 1,2), depois de ter outrora "falado pelos profetas" (Credo de Nicéia-Constantinopla), ele estará agora junto dos discípulos e neles (cf. Jo 14,17), a fim de ensiná-los (cf. Jo 14,16) e conduzi-los “à verdade inteira” (Jo 16,13). O Espírito Santo é revelado assim como uma outra pessoa divina em relação a Jesus e ao Pai.
244 A origem eterna do Espírito revela-se na sua missão temporal. O Espírito Santo é enviado aos Apóstolos e à Igreja tanto pelo Pai em nome do Filho, como pelo Filho em pessoa, depois que este tiver voltado para junto do Pai (cf. Jo 14,26; 15,26; 16,14). O envio da pessoa do Espírito após a glorificação de Jesus (cf. Jo 7,39), revela em plenitude o mistério da Santíssima Trindade.
"O conto de Santo Agostinho"
Conta-se que certa feita Santo Agostinho estava a meditar na beira da praia sobre o Mistério da Santíssima Trindade, pois queria entender como Deus é Uno e Trino; mais que de repente ele encontra uma criança a brincar nessa mesma praia.
A criança corria com uma conchinha na mão e tirava a água do imenso mar e punha num buraquinho que havia feito na areia da praia; observando a criança fazer aquele trajeto várias vezes, curioso, pergunto-lhe o que estava a fazer, ao que a criança respondeu: quero por toda a água do mar neste buraquinho na areia. Admirado Santo Agostinho disse-lhe: menino, não vês que jamais conseguirás o teu intento?
Ao que obteve como resposta: sei que não conseguirei; tampouco o senhor conseguirá entender o Mistério da Santíssima Trindade; dito isto, mas que de repente sumiu aos seus olhos, ao que o santo entendeu que Deus lhe enviara um anjo para lhe revelar esse entendimento sobre o mais fundamental mistério da fé cristã.
O AMOR TRINITÁRIO
O Pai que se dá ao Filho, o Filho que se dá ao Pai. /O amor do Pai, do Filho é o Espírito de Paz. / Mistério da Trindade é Deus que nos amou.
/ Nos deu o próprio Filho e no Espírito nos selou. / Adotados como filhos no seu Filho que é Jesus. / Pra vivermos pelo Espírito como dons de sua luz. / Mistério é Mistério, nos é revelação. / Mistério, vida eterna, Jesus é a Salvação. / Veio a noite, veio o dia o Pai, do Cristo se valeu. / Revelando o seu plano em seu amor nos envolveu. / Mistério revelado, Deus em nós e nós em Deus. / Pra ser povo abençoado, nova vida Ele nos deu. / Vede à hora, vede o tempo, vede o mundo em seu viver. / Tem a morte no pecado todo que em Deus não crer. / Mistério desta vida tem na morte o seu valor. / Morre o rico, morre o pobre, ai do morto sem amor. / Sem fé, sem Deus, sem Mistério.
Pe. Jeová de Jesus Morais.
Pároco de Uruará.