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Igreja Católica Apostólica Romana, Una e Santa. Sua vida é missão.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

PROCISSÃO E HOMILIA DE SEXTA-FEIRA SANTA

Quando tomou o vinagre, Jesus disse: “Está consumado!”. E, inclinando a cabeça entregou o espírito (Jo 19,30).
O quarto Evangelho começa a narração da Última Ceia de Jesus com seus discípulos com as palavras: "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13,1.
Em sua agonia no horto das Oliveiras na extrema angústia que chegou a transformar o suor em "densas gotas de sangue que caíam por terra" (Lc 22,43), e nessa agonia, Jesus ainda pede: “Pai afasta de mim esse cálice.” Mas ao mesmo tempo afirma sua fidelidade "até o fim": "Não a minha vontade, mas a tua seja feita! Ó Pai" (Lc 22,42). "Até o fim" não se refere apenas ao término cronológico da missão do Filho de Deus nesta terra, mas a sua inabalável determinação de cumprir com a vontade do Pai, numa obediência "até ao extremo", "até as últimas consequências", "até a morte e morte na cruz" (Fl 2,8).
Mas o amor obediente e fiel ao Pai com todo o coração, com toda a alma, com toda a força (cf. Dt 6,5) se complementa pelo amor, também "até ao extremo" aos "seus que estavam no mundo". Assumiu serviço de escravo ao cingir-se com um avental e lavar os pés aos seus discípulos, como vimos ontem. Mas também, exige deles que façam o mesmo. "Se, portanto, eu, o Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros" (Jo 13,14) e mais adiante explicita essa exigência:
"Dou-vos um mandamento novo; que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos uns aos outros."
(Jo 13,34; cf. Jo 15,12).
Ao derramar seu sangue doou-se a si mesmo totalmente, deu sua vida "até o fim". Com o "Está consumado!" prega o amor incondicional: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15,13).
Vamos nos levantar da mesa da ceia e juntos com o Senhor atravessar o Cedron e entrar no jardim das oliveiras.
É de noite, mas brilha a LUZ. Bem é verdade que já não estamos todos. Judas perdeu-se na NOITE, NAS TRVAS DA ESCURIDÃO (Jo 13,30). Virá depois com tochas e lanternas; e com soldados e armas (Jo 18,3). Vem prender a LUZ, mas cai encandeado (Jo 18,6). Tem de ser a LUZ a deslumbrar-se por amor e a entregar-se a ele por amor. Neste ponto preciso, lembrar o relato do evangelho de Marcos que todos nós fugimos, abandonando a LUZ (Mc 14,50). E fugidos andaremos, e perdidos, na noite e no frio, até sermos outra vez por Ele encontrados e recolhidos.
Porém, Pedro, perdido, se acolhe a outra luz e se aquece a outra chama (Jo 18,18). E interrogado, nega ter andado com Jesus, ter alguma coisa a ver com Jesus, ter parte com Jesus. Nega mesmo conhecer Jesus (Mc 14,67-71). Assim também agimos nós muitas e muitas vezes para nos esconder de traz dos nossos interesses pessoais.
Até que o galo canta, e começa a nascer o dia para Pedro (Mc 14,72). Senhor faça o galo cantar também para mim...
Mas Jesus prossegue o seu caminho de amor até ao fim. Até à Cruz.
É lá que se revela o rosto abatido pelo sofrimento e gosto pela morte que habita nos corações perversos daqueles homens sanguinolentos, que excitam a multidão e gritam. «Salva-te a ti mesmo!» (Lc 23,35.37.39)e gritam repetidamente zombando, porque o que querem, não é que Ele se salve; o que querem mesmo é assistir ao doentio espectáculo da morte! A tanto chegou a malvadez e a loucura humana! Um ódio sem motivo, sem fundo. (Sl 35,19; 69,5; Jo 15,25). 
Os profetas, especialmente o Isaías, descrevem o Servo do Senhor no momento em que realiza Sua missão de libertar o povo dos pecados e torná-lo agradável a Deus, como um cordeiro inocente, carregado dos crimes do seu povo, e que, em silêncio, em dizer uma palavra, se deixa conduzir ao matadouro. E é de sua morte, aceita livremente, que provém a justificação “para todos”. O dramático diálogo com Pilatos mostra Jesus silencioso, enquanto a autoridade, neste momento a serviço do pecado do mundo que cega o povo, decide Sua morte e O condena.
Ele é o Justo. Ele é a Bondade absolutamente gratuita, sempre Primeira e radical, igualmente sem motivo, sem fundo. Ele ama Primeiro (1 Jo 4,19), quando éramos ainda pecadores (Rm 5,8).
 Por isso, em vez de à nossa violência oferecer mais violência, Ele acolhe-a e acolhe-nos por amor, e por amor a nós se entrega, declarando assim ultrapassados e inúteis os nossos mais requintados ódios e os nossos mais sofisticados instrumentos de crueldade (cf. Is 2,2-4; Mq 4,1-3). Ali, naquele Corpo Crucificado, morto por amor, e por amor exposto diante dos nossos olhos atônitos (Gl 3,1), morre o nosso desejo de morte e o nosso pecado é apagado pelo fogo do amor, que declara o nosso pecado completamente inútil, inutilizado, anulado e ultrapassado (cf. Cl 2,14).
 ESTÃO MORTOS NOSSOS PECADOS, NOSSO ÓDIO E NOSSO EGOISMO. É A MORTE DA PROPRIA MORTE.
Contemplamos agora o Senhor crucificado, o corpo dilacerado pelos açoites, as mãos e os pés perfurados. "Está consumado!". O amor chegou ao extremo. Mas contemplamos na face ensanguentada de Jesus também os rostos de tantas irmãs e irmãos nossos que sofrem.
O Documento de Aparecida (DAp 65) se refere explicitamente a comunidades indígenas e afro-americanas, mulheres excluídas, em razão de gênero, raça ou situação sócio-econômica, jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir, pobres, desempregados, migrantes, deslocados, agricultores sem assistências técnicas, meninos e meninas submetidos à prostituição infantil, explorados sexualmente dentro das seus próprios lares, dependentes de drogas, as pessoas com limitações físicas, os portadores e vítimas de enfermidades graves que sofrem a solidão; os que são vítimas da violência em suas próprias casa, nas ruas...,
Só o Amor "até o fim" desvenda, a partir do coração de Deus, as causas de uma realidade estrutural que promove a morte e de projetos que destroem o lar que Deus criou para todos nós.
E a mãe de Jesus? A Mãe de Jesus, com o coração traspassado pela dor, ouve as palavras de seu filho: "Está consumado!". O Sim, dado ao anjo Gabriel, e seu "Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra" (Lc 1,38) chegam ao ponto culminante. Também Maria pode ao pé da cruz exclamar: "Está consumado!" Em breve terá apenas um corpo imóvel e gelado em seus braços.
Era já mais ou menos a hora sexta quando o sol se apagou, e houve treva sobre a terra inteira até à hora nona, tendo desaparecido o sol. O véu do Santuário rasgou-se ao meio, e Jesus deu um forte grito: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito" Dizendo isso, expirou. O centurião, vendo o que acontecera, glorificava a Deus, dizendo: "Realmente, este homem era justo!" (Lc 23,44-47).
Agora, Jesus está morto. O centurião romano não consegue disfarçar seu assombro. Atesta a inocência do crucificado. Afirma que era "justo". O corpo é descido da cruz e sepultado. Rolam uma grande pedra para a entrada do túmulo (cf. Mt 27,60). Nas famílias judaicas acendiam-se as velas e "o sábado começava a luzir" (Lc 23,54).
No calvário, uma cruz manchada de sangue lembra a morte atroz de Jesus de Nazaré.
O letreiro redigido por Pilatos em três línguas, "em hebraico, em latim e em grego" (Jo 19,20) continua informando quem aí foi executado: "Jesus Nazareu, o rei dos judeus" (Jo 19,19). O fim definitivo? Aparentemente! Mas a história não termina aqui! "Ao raiar do primeiro dia da semana" (Mt 28,1), "Maria, a Madalena, e a outra Maria" foram ao túmulo e receberam a notícia da boa nova: "Ele não está aqui, pois ressuscitou!" (Mt 28,6)
Pe. Jeová de Jesus Morais
Pároco de Uruará

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