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sábado, 14 de maio de 2011

ELES NÃO TÊM VINHO Jo 2,1-11

No evangelho de João temos uma simbologia abrangente do início da vida humana, o berço e o núcleo tanto da Igreja quanto de toda e qualquer a sociedade humana. Por se tratar do princípio da vida, Jesus faz questão de neste marcar ou inaugurar seu
ministério. Nele encontramos algo extraordinariamente novo, que extrapola as expectativas e observâncias do judaísmo.
Ao lermos essa passagem, podemos achar que Jesus tenha faltado com respeito à sua mãe quando diz: “Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou”. Hoje, se usássemos a expressão “mulher”, talvez pensaríamos ser mesmo um preterição, entretanto, naquela época correspondia à palavra “senhora”, com que, atualmente, tratamos com respeito as mulheres.
Jesus não estava negando qualquer relação entre Ele e sua mãe.
O sentido seria “em si nós nada temos a ver com esta falta de vinho. Minha hora de ser revelado ao mundo ainda não chegou. Contudo, o pedido da mãe antecipa esta hora.” Mas qual é o verdadeiro sentido dessa narrativa? Nós o vamos encontrar o verdadeiro sentido no que o mestre sala disse para o noivo: Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora. Considerando que, com esse primeiro sinal, Jesus inicia a sua missão, podemos dizer que o “vinho bom guardado até agora” são os ensinamentos de Jesus, superiores aos recebidos anteriormente, por meio de Moisés que seria simbolicamente o vinho de pior qualidade, Jesus dar o vinho de melhor qualidade.
                                   Bodas de Caná da Galileia.
Para entender melhor as Bodas de Caná da Galileia, é preciso compreender o verdadeiro sentido do casamento na tradição bíblia e profética. Este acontecimento era uma imagem muito usada para falar da aliança entre Deus e o seu povo. As bodas de Caná, uma festa onde todos estão celebrando a vida... De repente, o vinho começa a faltar. O vinho é o sinal do amor e da bênção de Deus ( Ct 1,2; 8,2). Eles não têm mais vinho ( 2,3). O casamento representava a antiga aliança de Deus com o seu povo, transmitida e vivida através da Lei. Nas bodas de Caná, a falta do vinho era uma referência à falta de amor, expressa na incapacidade de realizar a partilha e a solidariedade entre as pessoas. A mãe de Jesus, representando a comunidade dos pobres de Israel, percebe que a antiga aliança não está trazendo vida para as pessoas.
É a sensibilidade de uma mulher que constata que não tem mais vinho. É preciso fazer alguma coisa!
Veja bem, em nenhum momento aparece o nome da mãe de Jesus ( 2,1.3.5.12). Por que será que ela, na visão da comunidade de João, é tratada como mãe, e nas palavras de Jesus como mulher, e não por seu próprio nome?
Será mero esquecimento? Não. A omissão do nome é para dizer que Maria é representante de Israel fiel às promessas de Deus, daqueles/as que reconhecem em Jesus o Messias e lhe apresentam a grande dificuldade : “Eles não têm mais vinho” (2,3).
 A mãe de Jesus põe seu filho a par da aflição de Israel. Fala da situação de pobreza, sofrimento e vazio dos filhos de Israel. Maria, mãe e mulher solidária. Nas bodas de Caná e no calvário, a mãe de Jesus é tratada pelo filho como mulher ( 2,3; 19,26). Isso é um jeito de dizer que, nesses textos, ela não é uma personagem individual, mas representa a comunidade de Israel que acolhe Jesus e permanece fiel. Maria é mulher de iniciativa, sensível, solidária e mãe que está a serviço do Reino ( 12,1-12). Ao pé da cruz ( 19,25-27), Maria aparece ao lado de outras mulheres e do discípulo amado. 
Ela está ligada à comunidade por ser mãe e discípula.
Para realizar os sinais, Jesus conta com colaboração das pessoas. Novas personagens entram em cena : os serventes. A mãe de Jesus toma a iniciativa e pede que eles se ponham à disposição do seu filho. Jesus pede aos serventes que encham as talhas (2,7).
As talhas que eram usadas para conter a água para a purificação, estão vazias. Nas sinagogas, era costume ter algumas talhas com água para a purificação ritual. As talhas nos fazem lembrar a Lei de Moisés, o código da antiga aliança. Havia seis talhas, um número incompleto. O Evangelho apresenta seis festas judaicas ( 2,13; 5,1; 6,4; 7,2; 10,22; 11,55)
Essas festas, como as talhas, estão vazias. As autoridades judaicas transformaram essas festas em momento de exploração e opressão justificadas pela Lei. O mestre-sala experimenta o vinho novo, não sabe de onde vem, mas reconhece que é melhor do que o outro.
Ele é representante da classe dos dirigentes (2,6). Ele se dirige ao noivo e diz : “ Você guardou o vinho bom até agora” (2,10).
Além da surpresa, ele admite que a qualidade do vinho novo é melhor.
Na fala do mestre-sala, as autoridades reconhecem que a proposta da comunidade de João é melhor, ou seja, a sensibilidade, o amor, a solidariedade e o serviço dão sentido à vida das pessoas.
E quem articula esse novo jeito de viver, nessa comunidade, são as mulheres, que ajudam a construir novas relações. Elas são apresentadas como discípulas fiéis e modelos de seguimento a Jesus e, com sua sensibilidade, procuram viver o amor e o acolhimento no concreto do dia-a-dia.


Fonte: C. Bíblico Verbo
Ed:
Pe. Jeová de Jesus Morais
Pároco de Uruaará
Prelazia do Xingu

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