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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SEXTA PALAVRA DE JESUS NA CRUZ

Quando tomou o vinagre, Jesus disse: “Está consumado!”. E, inclinando a cabeça entregou o espírito (Jo 19,30).O quarto Evangelho começa a narração da Última Ceia de Jesus com seus discípulos com as palavras: "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13,1). A expressão "até o fim" na língua em que o Evangelho foi escrito, o Grego, se relaciona ao "Está consumado" que Jesus falou antes de morrer. É a mesma raiz gramatical que se encontra no "até o fim" e no "consumado". Em sua agonia no horto das Oliveiras na extrema angústia que chegou a transformar-se até em "espessas gotas de sangue que caíam por terra" (Lc 22,43), Jesus ainda pede que o Pai afastasse o cálice, mas ao mesmo tempo afirma sua fidelidade "até o fim": "Não a minha vontade, mas a tua seja feita!" (Lc 22,42). "Até o fim" não se refere apenas ao término cronológico da missão do Filho de Deus nesta terra, mas a sua inabalável determinação de cumprir com a vontade do Pai, numa obediência "até ao extremo", "até as últimas consequências", "até a morte e morte na cruz" (Fl 2,8).
Mas o amor obediente e fiel ao Pai com todo o coração, com toda a alma, com toda a força (cf. Dt 6,5) se complementa pelo amor, também
"até ao extremo"aos "seus que estavam no
mundo". Assumiu serviço de escravo ao cingir-se com um avental e lavar os pés aos seus discípulos. Exige deles que façam o mesmo. "Se portanto, eu, o Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros" (Jo 13,14) e mais adiante explicita essa exigência: "Dou-vos um mandamento novo; que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos uns aos outros" (Jo 13,34; cf. Jo 15,12). Jesus insiste no "como" que significa: "do mesmo jeito", "da mesma maneira", isto é, "até o fim" - "até ao extremo" - "até as últimas consequências". Ao derramar seu sangue doou-se a si mesmo totalmente, deu sua vida "até o fim". Com o "Está consumado!" prega o amor incondicional: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15,13).
Contemplamos o Senhor crucificado, o corpo dilacerado pelos açoites, as mãos e os pés perfurados. "Está consumado!". O amor chegou ao extremo. Mas contemplamos na face ensanguentada de Jesus também os rostos de tantas irmãs e irmãos nossos que sofrem. O Documento de Aparecida (DAp 65) se refere explicitamente a comunidades indígenas e afro-americanas, mulheres excluídas, em razão de gênero, raça ou situação sócio-econômica, jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir, pobres, desempregados, migrantes, deslocados, agricultores sem terra, meninos e meninas submetidos à prostituição infantil, dependentes de drogas, as pessoas com limitações físicas, os portadores e vítimas de enfermidades graves que sofrem a solidão; sequestrados e os que são vítimas da violência, do terrorismo, anciãos recusados por sua família como pessoas incômodas e inúteis, os presos em situação desumana. "Já não se trata simplesmente do fenômeno da exploração e opressão, mas de algo novo: a exclusão social. (...) Os excluídos não são somente explorados, mas supérfluos e descartáveis".

Só o Amor "até o fim" vê com os olhos de Deus os pobres e condenados à morte antes do tempo. Só este Amor desvenda, a partir do coração de Deus, as causas de uma realidade iníqua. Há estruturas que promovem a morte, há projetos que destroem o lar que Deus criou para todos nós. A criação geme em dores (cf. Rom 8,22) pelas feridas que lhe causamos, comprometendo a vida das futuras gerações.
A Mãe de Jesus, com o coração traspassado pela dor, ouve as palavras de seu filho: "Está consumado!". O Sim, dado ao anjo Gabriel, e seu "Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra" (Lc 1,38) chegam ao ponto culminante. Também Maria pode ao pé da cruz exclamar: ”Está consumado!”. Em breve terá apenas um corpo inerte e gélido em seus braços. Não dá para entender, como muitos anos atrás, também em Jerusalém, não entendeu as palavras do menino de doze anos (cf. Lc 2,48-50). Importante não é entender, mas doar-se "até o fim".
Testo de Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu
Ed: Pe. Jeová de Jesus Morais

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